Quando nem tudo vale: Lições Psicológicas de Raquel e Maria de Fátima de Vale Tudo

Fabio Rocha/TV Globo

Por Djhonatan Lucas M. Soares, psicólogo — CRP 14/08240-9

A volta de Vale Tudo à TV reacende discussões sobre valores, ética e relações familiares que continuam extremamente atuais. Como psicólogo, não pude deixar de refletir sobre duas personagens centrais dessa trama: Raquel e Maria de Fátima, mãe e filha cujos comportamentos contrastam de maneira tão intensa que nos convidam a um verdadeiro mergulho psicológico.

Raquel: a resiliência e o senso ético

Raquel é um exemplo clássico de resiliência. Mesmo diante das traições da filha e das inúmeras dificuldades financeiras, ela mantém firme o seu sistema de valores, a crença no trabalho digno e no respeito ao próximo. Do ponto de vista psicológico, Raquel representa o que chamamos de princípios internalizados, ou seja, valores que fazem parte da sua identidade e não se perdem mesmo sob pressão social.

Essa postura, porém, não significa ausência de sofrimento. Raquel sofre silenciosamente pela rejeição da filha, enfrentando dilemas que muitos pais e mães conhecem: como amar alguém que nos magoa? Como manter a própria integridade sem deixar de amar um filho? Aqui entra o conceito de amor incondicional, mas também de limites saudáveis, fundamentais para a saúde mental.

Maria de Fátima: a busca desenfreada por status

Já Maria de Fátima é um retrato de como a sociedade pode reforçar valores distorcidos. Ambiciosa ao extremo, ela acredita que “os fins justificam os meios” e não hesita em manipular, mentir ou abandonar aqueles que mais a amam para alcançar seus objetivos.

Psicologicamente, podemos associá-la a traços de narcisismo patológico, onde a necessidade de ser admirada e bem-sucedida sobrepõe qualquer empatia. Há também indícios de uma baixa tolerância à frustração, o que explica sua impaciência com caminhos mais longos e éticos para conquistar o que deseja.

Quando a ficção nos faz pensar

O grande mérito de Vale Tudo é nos fazer refletir sobre nossas próprias escolhas: quantas vezes a tentação do “atalho” nos ronda? O que estamos dispostos a abrir mão por status? E, principalmente, até onde vai nossa ética quando ninguém está olhando?

Raquel e Maria de Fátima mostram que as relações familiares são um terreno fértil para conflitos emocionais, mas também para aprendizados profundos. O equilíbrio entre amor, limites e valores é essencial para evitar relações tóxicas — dentro e fora de casa.

Ao assistir Vale Tudo, mais do que julgar Raquel ou Maria de Fátima, faça uma pausa para olhar para dentro: em qual delas você se enxerga hoje? Em qual delas você gostaria de se inspirar?

A trama nos mostra que todos nós, em algum momento, somos colocados diante de escolhas que testam nossa ética, nossa paciência e nossos afetos. O que nos define não são apenas as dificuldades que enfrentamos, mas as decisões que tomamos diante delas.

Que possamos aprender com essas personagens a valorizar o que realmente importa: a dignidade, os vínculos saudáveis e o compromisso com quem somos de verdade. Afinal, no jogo da vida, nem tudo vale.

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